domingo, 31 de julho de 2011

Portas que vão



Parece-me que em algum lugar
as pessoas aprenderam se desgostar;
eis a resoluta morte disso,
a ininterrupta fonte do isso

Os desejos não podem ser expressos,
almas devem pagar pelo ingresso,
da felicidade encadeada por vozes,
da calamidade chamada às vezes.

Às vezes cabe pensar a denominação
Em vezes faz chamar-lhe coração
Ingrato querer vagar “vagarosamente” vacante

Gritei pelos ventos viajados velados
Passe aos lados, veja quão
fortes são portas que vão



M. F. C.

Nada mais, não mais

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Profundo


Passado este como futuro
Celebrante o dia , o tempo vindouro
Nada muda, se edifica, se perece
Se quer, se esquece

Uma esperança em crises em espécie
A ilusão se repete ao filme que se envaidece
Se soubesse o saber do amanhã
Minha pessoa se rejuvenesce a cada fantasia, ela cresce

Profundo é o abismo que separa-te de mim
Perene é a noite que prolonga
a dor sem fim, sem trégua, sem mais

Choro no outro, em ti
Dói-me ouvir o silêncio que paira
na eterna dúvida que escapa, que espera




M. F. C.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Carne e Desejo


Os corpos se entrelaçam na sintonia
Que o ritmo proporciona à magia
Rudes com o vazio, movem-se descontinuamente
Enveredando por caminhos abertos insinuantes vulgarmente

Vulgar é não ter o contato
Em vão obscurecer o doce laço
Pés de fibras, eles dançam, criam
Eles sentem, pulsam, ignorando o estático

Forte aperto ao peito, de tanto
perto que despertos querem olhar
Olhos nos olhos de fixo encanto

Irrelevante concretizar o que está consumado
Os corações não necessitam de fatos
Obsoleto proferir musicalidade somente no dado




M. F. C.

Supérfluo Livro


Sinta-se num universo onde tudo
E todos parecem desejar fundo
A calmaria vazia do leve
Inefável e balançar das folhas

Passe e flutue na efervescência
Dos jogos apaixonados, loucos, frágeis
Por vício,por risco, eloqüência
Retórica, gostas de subornar imagens

Calor que bate, racha, invade
Respira sem conter as vidas
Vidas trabalhosas, cansadas e divididas

Plantou-se nas raízes nocivas, vívidas
Siglas escamoteadas no supérfluo livro
Seu cheiro num reverso giro






M. F. C.

Entrelinhas


Escrevo para não escrever entrelinhas
Navego não sendo senão vigia
das vontades caladas pela vigília
boicotadas invejosamente transcritas em linhas

Mente não poluente supõe ausente
no cenário de peças falsas
por nuvens inventadas em balsas
que navegam incessantemente vendadas, inocentes

Prenhe de injúrias ele está
Lento de juras, sim, quiçá
Sábio monge precipitado no silêncio

Em seu rio líquido incognoscente
as aves nadam de gritos
palavras são palavras, são ritos




M. F. C.